terça-feira, 20 de abril de 2010

ANTUNES, Irandé. “Aula de português: encontro e interação.” 8. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.

As competências necessárias para que o sujeito interaja com seu meio social passam, sem dúvida alguma, por usos específicos da linguagem e a escola não pode negligenciar o desenvolvimento do aluno nesse âmbito. Por esse motivo, os professores da Educação Básica têm recebido muitos apelos para que mobilizem seus esforços no sentido de redirecionar as práticas de ensino de português.


Através do livro “Aula de português: encontro e interação”, Irandé Antunes – doutora em Linguística pela Universidade de Lisboa e professora da Universidade Estadual do Ceará – proporciona aos professores da Educação Básica uma oportunidade de refletir sobre os novos rumos que as aulas de português precisam seguir para formar cidadãos capazes de utilizar a língua como um instrumento de interação. De acordo com a autora, as habilidades de usar a língua adequadamente concorrem para o desenvolvimento pessoal, social e político dos indivíduos.

No livro, as discussões da pesquisadora estão organizadas em seis capítulos. Primeiramente, a autora disserta sobre equívocos e dificuldades encontrados no trabalho com os componentes de ensino de português – a saber: a oralidade, a escrita, a leitura e a gramática. O segundo capítulo apresenta pressupostos teóricos capazes de alicerçar práticas mais produtivas de ensino da língua. No terceiro, a professora aponta caminhos e sugere atividades para as aulas de português. A quarta e a quinta partes do livro abordam questões acerca dos procedimentos de avaliação e da autonomia do professor. Há ainda um último capítulo em que a autora justifica a postura adotada em seu texto e ressalta que “Aula de português: encontro e interação” é apenas uma semente que integra uma discussão aberta e contínua na busca por caminhos para um ensino da língua cada vez mais eficaz.

Não falta aos professores o respaldo das instâncias superiores para que o ensino de português seja reorientado. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), por exemplo, legitimam um ensino do português voltado para seus usos sociais. Desse modo, assumir uma concepção interacionista da língua é o primeiro passo para que as prioridades das aulas de português sejam redirecionadas. Os saberes classificatórios e os conhecimentos metalinguísticos devem deixar de protagonizar as práticas de ensino para dar lugar à língua em função e o texto precisa ocupar a posição de objeto de ensino.

A pesquisadora argumenta que o ensino de português tem como objetivos primordiais ampliar a competência comunicativa dos alunos e investir na capacitação de indivíduos que falam, ouvem, leem e escrevem textos adequados às demandas de uso da linguagem. No terceiro capítulo, Irandé Antunes apresenta alguns exemplos de como os diversos textos que circulam na sociedade podem servir de instrumento para que o professor desenvolva atividades adequadas a tais objetivos. Mas, para que o docente utilize esses textos em suas atividades, é necessário que ele demonstre autonomia e assuma o controle de suas aulas; ele precisa ler e ouvir os textos que circulam socialmente para perceber neles oportunidades de trabalhar conteúdos relevantes, precisa ainda estar antenado a situações comunicativas reais (de dentro ou de fora da escola) para utilizá-las nas produções orais e escritas de seus alunos.

Preocupada com as práticas tradicionais de ensino de português que ainda persistem, a professora Irandé Antunes termina o livro incentivando o professor a assumir autonomia didática. A autora reconhece que foi bastante enfática e que, em alguns momentos, se deixou levar pela emoção, pois seu objetivo é transmitir aos professores da Educação Básica um apelo amoroso para que estes reflitam e busquem novas alternativas para suas aulas de português. (Bianka Teixeira de Andrade; aluna do curso de Letras da UFMG)