terça-feira, 30 de março de 2010

CARNOY, Martin. "A vantagem acadêmica de Cuba: por que seus alunos vão melhor na escola." Rio de Janeiro,: Ediouro, 2009.

Já há algum tempo, Cuba vem sendo objeto de análise de muitos pesquisadores à maneira de se entender por que os seus alunos se saem, academicamente, melhores, que os vizinhos latino-americanos nas várias avaliações internacionais de proficiência a que são submetidos. A partir de pesquisa comparativa da educação no Brasil, Chile e Cuba, o livro A vantagem acadêmica de Cuba, do economista e Professor da Universidade Stanford, Martin Carnoy, ultrapassa a retórica ideológica que dificilmente escapa à comparação no campo da política, em estudos dessa natureza, mas, ainda avança ao propor dois questionamentos importantes, acerca da superioridade do ensino cubano. O primeiro deles é entender, exatamente, o que faz com que as crianças cubanas leiam bem, aprendam matemática e ciências, ao contrário das brasileiras e das chilenas. Já o segundo deles diz respeito a possíveis lições que o sistema educacional, tanto do Brasil, quanto de Chile, poderiam assimilar, considerando, naturalmente, as diferentes formas de organização do estado de cada um desses países.

Para compreender essas questões, Carnoy foi para dentro das salas de aula, nas quais ele pode mensurar a formação do professor em serviço e a sua atuação em classe; as condições físicas das salas de aulas, a disponibilidade de material didático, além do grau de autonomia dos gestores educacionais. A superioridade do desempenho dos estudantes de Cuba pode ser explicada, segundo ele, por uma série de fatores. Carnoy acredita que o contexto social em que vivem os cubanos está diretamente ligado ao sucesso escolar, já que suas crianças não precisam trabalhar fora; o trabalho infantil, ali, praticamente não existe, além de os pais terem um grau de instrução bem superior ao dos outros países. O pesquisador, ainda, afirma que outro efeito do contexto social naquele país tem a ver com o salário dos professores, fixado pelo Estado, que torna a profissão mais atraente, levando os melhores alunos do ensino médio a optar pela educação. Contudo, Carnoy conclui que as maiores descobertas relativas ao sucesso escolar cubano relacionam-se ao próprio sistema educacional, o qual começa com uma melhor formação inicial dos professores, que não só dominam o conteúdo que vão ensinar como também os procedimentos para bem ensiná-lo. O autor argumenta, ainda, que a supervisão e orientação constantes dos diretores cubanos em relação aos novos professores asseguram um alto nível de ensino do currículo, fazendo com que todas as crianças aprendam. A experiência cubana leva Carnoy a afirmar que o Estado, em países como Brasil e Chile, “tem que ser muito mais do que um fiador da educação de qualidade para todos”. Ele deve “assumir a responsabilidade pública pelo sucesso das crianças” (…) “mesmo à custa de reduzir a autonomia acadêmica e administrativa das escolas de Educação”, que cuidam da formação inicial dos docentes, e de delimitar a “autonomia dos professores em sala de aula, quando não apresentam a criatividade e a competência para atuar em alto nível”. (Maria do Rosário Figueiredo Tripodi; professora da Rede Municipal de Betim, MG)

Nenhum comentário:

Postar um comentário