Palavras-chave
"A vantagem acadêmica de Cuba"
"Aula de Português: encontro e interação"
"Entre os muros da escola"
"Gêneros orais e escritos"
"Livro de receitas do professor de Português"
"Produção textual; análise de gêneros e compreensão"
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Walter Ferreira Coelho Neto
sexta-feira, 26 de março de 2010
ENTRE os muros da escola. Produção de Caroline Benjo, Carole Scotta, Barbara Letellier e Simon Arnal. França: Sony Pictures Classics / Imovision distribuidora,2008. Cores. Duração 128’.Legendado.Port.
Entre os Muros da Escola (no original Entre Les Murs) é uma adaptação para o cinema, dirigida por Laurent Cantet, do romance homônimo de François Bégaudeau (publicado pela editora Martins Fontes, 2009). O filme traz um retrato claro e objetivo da situação do ensino nos dias atuais. Longe de “romancear” essa situação, criando mais um dos muitos já existentes “filmes-de-professor”, o diretor opta por utilizar um estilo quase de documentário ao colocar “atores-alunos” interpretando uma situação comum ao seu cotidiano. Mas é importante destacar que os alunos escolhidos para estar no filme não interpretam a si mesmos, eles interpretam experiências comuns a estudantes de qualquer escola e, para isso, passaram apenas por um curto workshop de atores. O próprio autor do livro, além de assinar o roteiro, também aparece como o jovem professor François Marin. Vencedor da Palma de Ouro no festival de Cannes de 2008, o filme nos mostra o dia-a-dia de François, jovem professor de francês que luta contra um sistema que mais vezes exclui do que inclui o aluno, mas que em momento algum é retratado como um herói. Se ele luta contra o sistema de punição da escola onde leciona, se ele procura ajudar seus alunos a entenderem sua própria identidade, levando a aula além do conteúdo que deve ser ministrado, ele também erra, perde a paciência, é autoritário em alguns momentos. O filme não quer mostrar a já desgastada idéia de um professor que luta contra tudo e contra todos, e que com pouquíssimo recurso consegue “transformar uma turma” que para a escola já era dada como “perdida”. Não há a idéia de transformação ou recuperação, mas sim a idéia de diálogo, convivência, um grupo dividindo um mesmo espaço, cada um buscando negociar seu papel nesse recorte da sociedade que é a escola. Para o diretor, o que importa é retratar como a vida de cada uma daquelas pessoas converge para a sala de aula. Alunos que não dominam o francês, matriculados em uma turma com alunos falantes nativos da língua, alunos com problemas em casa, com problemas com a imigração, uma turma sem auto-estima e sem motivação alguma, um professor cansado e, às vezes, desmotivado. Mostrar como a soma de todas essas experiências influenciam no resultado da aula e como elas implicam no aprendizado é o que importa para Cantet. Assim como no romance, não é apenas o professor que tem voz: os alunos também assumem a postura de se fazerem vistos e ouvidos, e cabe a François dialogar e extrair o máximo possível dessas conversas com eles. “Entre os Muros da Escola” se torna um filme essencial para quem direta ou indiretamente está ligado à educação, ou simplesmente para quem ama um bom cinema. Um fator importante para isso é a forma como o diretor aborda os problemas comuns à escola, como a evasão, a indisciplina, a falta de diálogo, de um jeito que um aluno ou um professor de qualquer parte do planeta possa se relacionar com o que está sendo abordado. É sim um filme sobre a educação na França, mas, mais do que isso, é um filme sobre a educação como um todo, e reflexos dos temas retratados são claramente encontrados aqui no Brasil. O tom realista, reforçado pelo fato de que todos ali, alunos, professores, pais, são alunos, professores e pais na vida real, ajuda o diretor a alcançar seu objetivo, o de mostrar um retrato desse sistema, sem julgamentos, sem ideologias, simplesmente mostrar o que se passa entre os muros da escola. (Walter Ferreira Coelho Neto; aluno do Curso de Letras da UFMG)
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